O encontro que aconteceu no Hotel Carlton, que teve suas dependências e auditórios usados por dois dias, foi marcado por críticas dos participantes à falta de diálogo e ao autoritarismo, que muitos consideram a principal marca da atual gestão na relação com o movimento social negro, de acordo com relatos de participantes ouvidos por Afropress.
Segundo o dirigente da Coordenação Nacional de Entidades Negras da Bahia, Gilberto Leal, a proposta é que a reunião com a Presidente Dilma se dê sem a mediação da SEPPIR. “Expressamos o desejo de buscar uma audiência com a instância máxima do país, com a Presidente e com alguns ministros, em que representantes do movimento negro possam estar reivindicando da Presidência, chamando os seus ministros para dialogar numa audiência no mais curto espaço de tempo. Deixamos claro que se trata de reivindicação protagonizada pelo movimento. É o movimento quem deve protagonizar o processo, diretamente. A sociedade civil reivindicando do Governo e não através de mediação. Talvez a SEPPIR tenha interesse em estar, em dialogar, mas nós vamos pela nossa própria dinâmica”, destacou Leal.
De acordo com os críticos da ministra, a reunião – convocada num fim de semana fora das dependências oficiais e com uso de recursos públicos para passagens, alimentação, traslado e estadia dos participantes – seria uma tentativa de Bairros de criar uma frente de apoiadores para manipular a III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III CONAPIR), marcada para acontecer entre os dias 05 e 07 de novembro, e criar as condições para se manter no cargo.
Segundo Leal, a maior parte dos presentes ao encontro reconhecem que, apesar dos “pequenos avanços nos últimos 10 anos, há muito mais a caminhar e, portanto, é preciso uma eficiência de gestão maior para fazer isso”. “Os prejuízos de você não ter tido diálogo todo esse tempo, em um Governo que propaga como sendo de uma gestão participativa, são muito grandes”, assinalou.
Senado negro
A reunião foi aberta pela própria Luiza Bairros na tarde de sábado (06/07). A ministra teria dito que considerava os presentes “uma espécie de Senado do Movimento Negro”. A declaração provocou a reação irônica de um dirigente que não participou da reunião. “Quer dizer que todos [os que não foram convidados] viramos baixo clero pela escolha dela”, ironizou.
Afropress apurou que assessores da ministra não escondiam a preocupação com a repercussão da decisão de alugar os salões do Carlton, hotel de alto padrão de Brasília para um fim de semana, com passagens aéreas, alimentação e traslado dos participantes, ignorando que repartições públicas federais e a própria SEPPIR dispõe de auditório que poderia ser utilizado.
Preocupados com eventuais ações que poderiam ser adotadas por iniciativa do Ministério Público Federal, uma vez provocado, alguns teriam cogitado utilizar como álibi o encontro das Comunidades de Terreiro e Comunidades Tradicionais. Ocorre, porém, que a reunião com as Comunidades Tradicionais acabou na sexta, dia 05/07, às 23h, e o encontro com os nomes convidados pela SEPPIR começou às 14h de sábado (06/07), conforme convite distribuído aos participantes.
As diárias no Hotel Carlton, de 6ª a domingo, variam de R$ 185,00 (Single), Double (R$ 225,00), Suite executiva (R$ 450,00), Suite "The Carlton" (R$ 710,00), de acordo com informações constantes na página do hotel na Internet.
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